Mecânica dos fluidos/Pressão sobre corpos submersos

Fonte: testwiki
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Pressão sobre uma placa retangular imersa em um fluido incompressível

Uma placa retangular, de dimensões L x W, espessura desprezível, imersa em um fluido incompressível de densidade ρ, sofre pressão sobre a sua superfície superior, devido ao peso desse fluido. Se a placa estiver imersa a uma profundidade D e perfeitamente alinhada horizontalmente, todos os pontos estarão sujeitos à mesma pressão p=ρgD.

Se, no entanto, apenas a sua extremidade superior estiver alinhada com a horizontal e a face fizer um ângulo Θ com esta, os pontos sofrerão uma pressão que varia com a profundidade, de ρgD no topo a ρg(D+Lsinθ) na extremidade inferior. Isso dará origem não apenas a uma força resultante sobre a superfície, mas também a um torque na direção horizontal.

Para obter a força, é preciso integrar a força infinitesimal sobre cada elemento de área da placa.


dF=pdA=(ρgh)dA


A direção da pressão é sempre perpendicular à superfície da placa, pois o líquido está estático, o que simplifica o cálculo, tornando desnecessário trabalhar com vetores. Podemos introduzir a variável x, variando de 0 a L, ao longo da face da placa, sendo h=D+xsinθ, para integrar a equação acima.


dF=ρg(D+xsinθ)dA


dF=ρg(D+xsinθ)Wdx


F=ρgW(DL+L2sinθ2)


O torque sobre a superfície, por sua vez, tomando-se como referência a extremidade superior, será dado por


dΩ=xdF=xρg(D+xsinθ)Wdx=ρgW(Dx+x2sinθ)dx


Ω=ρgW(DL22+L3sinθ3)


A profundidade do centro geométrico da placa é


hc=D+Lsinθ2


e a pressão nessa profundidade é


pc=ρghc=ρg(D+Lsinθ2)


que daria origem, se aplicada uniformemente a toda a placa, a uma força


Fc=pcA=ρg(D+Lsinθ2)WL=ρgW(DL+L2sinθ2)

que é igual à força resultante sobre a placa calculada acima. Assim, podemos escrever que a força resultante sobre a placa submersa é igual à força que apareceria se ela estivesse mergulhada na posição horizontal na profundidade em que se encontra o seu centro geométrico. Quanto ao torque, podemos dizer que ele é igual à força FC aplicada à posição


xΩ=ΩFc=DL2+L2sinθ3D+Lsinθ2


xΩ=(DL2+L2sinθ4+L2sinθ12)D+Lsinθ2=L2+L2sinθ12D+Lsinθ2


Esse ponto está a uma profundidade


hΩ=D+xΩsinθ


e é a coordenada vertical do ponto de aplicação da força resultante Fc. As outras coordenadas são, obviamente:


yΩ=W2


zΩ=xΩcosθ


A força Fc, por sua vez, pode ser expressa por suas componentes em cada uma das dimensões


FH=FcsinθFV=FccosθFy=0


Os 6 valores FH, FV, Fy, hΩ, zΩ e yΩ descrevem completamente a força aplicada à superficie.

Pressão sobre uma placa plana de qualquer formato imersa em um fluido incompressível

Qualquer que seja o formato da placa, podemos escrever, como acima


dF=pdA=(ρgh)dA=ρg(D+xsinθ)dA


F=ρg(DdA+sinθxdA)=ρg(DA+M0sinθ)


dΩx=xdF=xρg(D+xsinθ)dA


Ωx=ρg(DxdA+sinθx2dA)=ρg(M0D+I0sinθ)


onde

M0=xdAeI0=x2dA


são, respectivamente, o primeiro e o segundo momentos da área da superfície com relação ao eixo que passa pela extremidade superior.


A profundidade do centro geométrico da placa é


hc=D+xcsinθ=D+xdAdAsinθ=D+M0Asinθ


e a pressão nessa profundidade é


pc=ρghc=ρg(D+M0Asinθ)


que daria origem, se aplicada uniformemente a toda a placa, a uma força


Fc=pcA=ρg(DA+M0sinθ)

que também é igual à força resultante sobre a placa calculada acima. Assim, podemos escrever que a força resultante sobre a placa submersa, qualquer que seja o seu formato, é igual à força que apareceria se ela estivesse mergulhada na posição horizontal na profundidade em que se encontra o seu centro geométrico. Quanto ao torque, podemos lançar mão do teorema dos eixos paralelos (ou teorema de Steiner) e substituir


I0=Ic+Axc2=Ic+Axcxc=Ic+AxcM0A=Ic+xcM0


onde Ic é o segundo momento da área (ou momento de inércia da placa) com relação a um eixo que passa pela posição xc


Ωx=ρg(M0D+I0sinθ)=ρg(AxcD+(Ic+xcM0)sinθ)=ρgxc(DA+M0sinθ)+ρgIcsinθ


Ωx=xcFc+ρgIcsinθ


xΩ=ΩxFc=xcFc+ρgIcsinθFc=xc+ρgIcsinθFc=xc+ρgIcsinθρghcA


xΩ=xc+IcsinθhcA


No caso de uma placa retangular, não haverá torque na direção horizontal, devido à simetria (yΩ=W2). Para uma placa de formato qualquer, é preciso calculá-lo de acordo com as mesmas fórmulas. Os 6 valores FH, FV, Fy, hΩ, zΩ e yΩ descrevem completamente a força aplicada à superficie.

Pressão sobre uma placa curva imersa em um fluido incompressível

No caso de uma placa curva, não temos mais os infinitesimais dF apontando todos para a mesma direção. O cálculo se torna mais complexo, porque é preciso integrar separadamente as componentes vertical e horizontal dFH e dFV:


dFH=pdAVdFV=pdAH


FH=pdAVFV=pdAH


onde dAH e dAV são, respectivamente, as projeções do elemento de área dA na direção horizontal e vertical. No caso de FH, a fórmula deixa claro que a superfície curva A pode ser substituída pela sua projeção na vertical AV, sem que o cálculo seja afetado. Assim, podemos usar a fórmula geral


FH=pcAV


Quanto a FV, pode-se usar o mesmo método ou desenvolver-se a expressão


FV=pdAH=ρghdAH=ρghdAH=ρgVs


onde V_s é o volume de fluido total que se encontra sobre a placa.


O torque na direção horizontal pode ser calculado a partir da força FH como se a placa fosse plana. A direção x deve ser escolhida de forma a coincidir com o eixo vertical e a direção z, com a horizontal.


xΩ=xc+IchcAV


ΩH=xΩFH


Para calcular zΩ, deve-se encontrar a coordenada horizontal do centro de massa do volume de fluido sobre a placa.


Vale ressaltar que o método usado para o cálculo de FH é totalmente geral e pode ser usado qualquer que seja a direção desejada. Dependendo da posição da placa, pode ser conveniente escolher uma direção de análise que não coincida com a horizontal ou a vertical.

Caso especial de uma placa plana retangular

Se a placa for plana e retangular, de dimensões L x W, espessura desprezível, estiver imersa a uma profundidade D e a face fizer um ângulo Θ com esta, como na seção anterior


FH=pcAV=ρghcWLsinθ=ρg(D+Lsinθ2)WLsinθ


FH=ρgW(DL+L2sinθ2)sinθ=Fcsinθ


que é a componente horizontal da força Fc calculada na seção anterior.


FV=ρgVs=ρg(DWLcosθ+WLsinθLcosθ2)=ρgW(DL+L2sinθ2)cosθ=Fccosθ


que é a componente vertical da força Fc calculada na seção anterior.


xΩ=xc+IchcAV=Lsinθ2+(0Lsinθ(xxc)2dA)(D+L2sinθ)AV


xΩ=Lsinθ2+W(LsinθLsinθ2)3(0Lsinθ2)33(D+L2sinθ)WLsinθ=Lsinθ2+L212sin2θD+L2sinθ


xΩ=[L2+L212sinθD+L2sinθ]sinθ


que é o mesmo valor calculado na seção anterior, apenas multiplicado por sinθ, devido à mudança de orientação do eixo x, de paralelo à face da placa para a vertical. Na direção horizontal, podemos escrever x=ztanθ e calcular


zΩ=MVsVs=zdVdV=W0LcosθDztanθzdxdzW0LcosθDztanθdxdz=0Lcosθz(ztanθ+D)dz0Lcosθ(ztanθ+D)dz


zΩ=L3cos3θtanθ3+DL2cos2θ2L2cos2θtanθ2+DLcosθ=L2sinθ3+D2Lsinθ2+Dcosθ


que é o mesmo valor calculado na seção anterior.

Outros casos especiais

O método apresentado nesta seção é bastante genérico e serve para calcular a pressão sobre uma superfície qualquer, bastando dividi-la em um número apropriado n de superfícies (S1, S2, etc.) de forma que o cálculo se torne fácil.

  • Placa apenas parcialmente submersa: neste caso, é preciso dividir a superfície S em n partes, calcular os parâmetros (FH, FV, Fy, xΩ, yΩ e zxΩ) para cada uma das superfícies Si totalmente submersas e somar os vetores.
  • Placa submersa em fluidos diferentes: neste caso, é preciso dividir a superfície S em n partes, cada uma delas em contato com no máximo um fluido, calcular os parâmetros (FH, FV, Fy, xΩ, yΩ e zxΩ) para cada uma das superfícies totalmente submersas e somar os vetores.



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