Cálculo (Volume 2)/Funções vetoriais
Funções e curvas vetoriais
- Definição
Sejam a variável escalar e a função . Dizemos que a mesma é uma função vetorial se as operações representadas por esta submetem a variável escalar a procedimentos que conduzem à reprodução de um vetor.
De fato, se representa um vetor, podemos decompô-la em quando a mesma representa um vetor no espaço. Da mesma forma, podemos dizer que
Em outras palavras, uma função vetorial é representada pela forma paramétrica, o que nos habilita a fazer todas as análises que já conhecemos sobre as mesmas do mesmo modo que fizemos para as formas paramétricas. O princípio da interdependência entre as funções membro deve ser considerado todas as vezes que a função precise ser avaliada como existente ou inexistente em um domínio. Todas as funções membro deverão existir no domínio para que a função vetorial exista.
Exemplo 1
Seja a função:
onde
Então, são funções membro de :
Uma vez que, quando , a função vetorial não existe para este valor do domínio.
- Gráficos
Uma vez que as funções vetoriais são representadas parametricamente, seus gráficos podem ser analisados da mesma forma que vimos para as funções paramétricas, funções paramétricas assumem formas diversas e são livremente dispostas sem a necessidade de obedecer o critério de independência para uma das variáveis; o único termo independente de uma função vetorial é o parâmetro, que não é representado no gráfico. Uma vez que devemos analisar o comportamento da função e sua relação com a evolução dos valores do parâmetro, podemos adotar a notação das setas para indicar o sentido em que o parametro evolui, observemos o gráfico:
| Observe que os pontos da curva obedecem a seqüência das setas, aqui indicado como o sentido da progressão dos valores do parâmetro. |
O vetor posição alocado no ponto evolui de acordo com o comportamento da função vetorial. Observe que o gráfico é convenientemente semelhante a um sistema polar.
Definimos como curva vetorial, o conjunto de pontos contínuo estabelecido a partir de uma função vetorial. A continuidade é um requisito fundamental para que haja uma curva vetorial, visto que eventuais rupturas de valores em uma função presumem comportamentos inprevisíveis na trajetória da mesma.
Limites
O limite de uma função vetorial para um determinado valor "" é definido como:
Uma vez que o limite da função depende dos limites individuais das funções membro, este só existe caso todos os anteriores existam. Procede-se a análise individual para verificação da condição de existência em todas as funções membro, no referido domínio, antes de definir sua existência ou não.
Exemplo 2
Seja a função vetorial: , encontre o limite da função quando .
O limite da função vetorial é conseguido fazendo-se o limite de cada função membro:
Imediatamente, temos os limites:
Porém, temos uma indefinição no limite:
Que tende a forma indeterminada . Devemos aplicar a regra de L'Hôpital:
Portanto, o limite é:
Continuidade
A condição de contiuidade da função vetorial é aplicada segundo o mesmo princípio que utilizamos na definição do limite, ou seja, a função vetorial é contínua se as suas funções membro forem contínuas, mais precisamente, analisamos os valores do limite e da função em cada membro e definimos se a função vetorial resultante é contínua.
Segundo o critério de continuidade de uma função, a função será contínua caso o limite e a função no ponto em questão existam e sejam iguais.
Derivadas
A clássica definição de derivada de uma função também se aplica a funções vetorais, verifiquemos as razões para que o modelo de análise de uma função escalar também pode ser usada em funções de valor vetorial:
Observemos o gráfico abaixo:
| O gráfico formal de uma reta secante a uma curva , o valor "h" decresce até que os pontos sejam infinitesimalmente próximos, quando podemos considerar que a reta é tangente à curva. |
Este é um gráfico de uma curva bidimensional, como já vimos antes. Nossa meta é definir uma relação equivalente para curvas vetoriais, neste caso adotemos , uma função vetorial que define a curva, então teremos:
Sendo:
Quando fazemos a análise sob uma óptica vetorial devemos observar o efeito desta sobre as curvas que são representadas pelas funções componentes que temos na curva vetorial, observemos o gráfico abaixo:
Um vetor componente em uma curva vetorial é a representação puntual da mesma, a derivada desta função neste ponto é a representação da tendência de evolução da curva em relação ao parâmetro neste ponto. Podemos verificar quais as regras básicas para operar estas funções vetoras na tabela logo abaixo: Sejam as funções vetoriais , considerando o escalar e a função real ,
| Caso | Equação |
|---|---|
| Soma e diferença | |
| Múltiplo por constante | |
| Múltiplo por função real | |
| Regra da cadeia | |
| Produto escalar | |
| Produto vetorial |
Estas regras são facilmente verificadas se observarmos que são conseqüentes das propriedades das derivadas e dos vetores, as quais já conhecemos, fica como exercício a prova das mesmas.
- O versor puntual
É comum termos que referenciar um ponto da curva e verificar a tendência de evolução da curva a partir daquele ponto com base na evolução dos valores do parâmetro. Para isto podemos utilizar o versor tangente ao ponto, sendo :
Ou, mais resumidamente, se:
, podemos fazer:
Exemplo 3
Calcular a reta tangente e o seu versor para a curva no ponto :
Para tal devemos definir o valor do parâmetro para este ponto, que é , depois devemos encontrar a derivada da função vetorial:
Que nos revela o vetor tangente:
como vetor diretor da reta.
E, finalmente, basta substituir os valores na equação paramétrica da reta, visto que temos o ponto e o vetor diretor:
T48 - Ortogonalidade entre função e derivada
- Demonstração
Admitamos como sugere o teorema, para este caso temos:
Por outro lado,
O que comprova o teorema.
Integrais
Obviamente, observadas as semelhanças entre funções vetoriais e reais quanto a forma de calcular a derivada, não será difícil deduzir a forma de operarmos a integral das mesmas. Uma vez que a derivada da função vetorial é um vetor cujos componentes são as derivadas das funções que definem as variáveis parametricamente, a integral obedece a mesma regra de tratamento individual das funções componentes, substituindo a operação pela inversa da diferenciação.
Integral definida
Para uma função vetorial tal que:
A integral definida de uma curva, para o intervalo do parâmetro é:
- Embasamento
Consideremos que a função vetorial seja subdividida em subintervalos em relação ao parâmetro, então podemos dizer que, por analogia a funções reais mais simples, podemos fazer o cálculo da integral somando todos as partes , sendo um contador de índice. Poderemos fazer o cálculo aproximado da integral desta forma:
Quando aumenta e a precisão de aumenta temos uma convergência dos valores para o valor da integral, o que nos permite dizer que a integral é convergente. Desta forma podemos fazer o cálculo da convergência, segundo o critério que já conhecemos:
Agora, podemos invocar a conversão de valores da relação entre largura e número de fatias:
e teremos a equação coforme a definimos anteriormente.
Integral indefinida
Sob o mesmo raciocínio, não é difícil chegar a conclusão de como calculamos a integral indefinida, certamente a mesma é a antidiferencial de cada função componente, como fazemos para uma função real.
Para a mesma função que definimos anteriormente, a sua integral indefinida será:
Vale lembrar que o processo de simples antidiferenciação não nos fornece a constante para cada função membro, o que nos obrigará a fazer o estudo das condições iniciais dos eventos que deram orígem à equação para que tenhamos condições de avaliar o seu valor.
Teorema fundamental
Finalmente, podemos utilizaro o T35 - Teorema fundamental do cálculo para cada função componente e calcular a integral definida da função vetorial a partir de suas antidiferenciais.
Seja e sua antidiferencial , podemos aplicar o teorema fundamental de forma a encontrar a integral definida no intervalo do parâmetro, tal que:
e
Esta forma expande-se facilmente para as funções componentes, o que resulta em:
Exemplo 4
Calcular a integral definida da curva no intervalo do parâmetro:
Apenas aplicação direta do teorema fundamental:
Substituimos os valores:
E temos o resultado:
